terça-feira, 23 de setembro de 2008

O que você é?


Você já parou pra pensar em tudo o que você é? Em tudo que te torna você mesmo?
Você é tudo o que ocorreu durante a gravidez de sua mãe, você é o relacionamento do seus pais em relação à você, você é os brinquedos que brincou, as conversas com seus pais, as gírias que usou, os conselhos que seguiu, as decepções de não ter dado certo, as alegrias das conquistas, as derrotas, as vitórias, os conselhos que deu, o amor gostoso que viveu, o pior relacionamento que já teve, o renascido após escapar do acidente, o ferido após a briga, o ferido com palavras após a briga, ou mesmo aquele que feriu. Você é aquela encrenca em que se meteu, ou mesmo o problema que resolveu, você é aquela conversa séria com seu pai, ou aquela briga com a sua mãe, você é o que você lembra. Você é aquela saudade que não vai embora, aquela cidade distânte, os seus amigos de infância, seus amores perdidos, seus amores nunca tidos, você é a infância que recorda, aquele banho de chuva, aqueles amigos, aquela solidão. Aquela velha música, aquele perfume, aquela flor, aquele cheiro, aquele lugar, aquele pôr-do-sol, você é a saudade dos seus pais, da sua família, daquele abraço, ou mesmo daquele abraço que nunca teve, da família que nunca te confortou, você é toda a falta que sente, todo o vazio que há, todo o amor de mãe, toda a parceria de pai, você é aquele arrependimento de não ter falado na hora, você é todas as músicas que já ouviu, todos os filmes que já assistiu, todos os livros que já leu, assim como você é aquela sua música favorita, aquela parte da música que você chora, aquele filme que te emociona, aquele livro que te arrepia, aquele acontecimento que te abala, aquela rua que você gosta, as casas em que você morou, aquele velho sótão, aquele confortante porão. Você é o seu quarto, o que você sente lá, a sua casa, o que você sente e passa nela, você é aquela rua que lhe arrancou lágrimas um dia, você é a lágrima que lhe foi arrancada, a agonia que passou, o choro que chorou. Você é o que você chora, o que você pensa, mas não necessariamente o que você faz. Você é a ajuda que dá, a compreensão que tem, aquele abraço inesperado, o abraço dado, o abraço recebido, aquela lágrima causada, aquele beijo, aquele beijo roubado, aquele beijo que você queria nunca ter dado, ou mesmo o beijo que ainda nunca deu, você é aquele alguém que quer beijar, aqueles que já beijou, você é o toque dado, a flor recebida, o corpo acariciado, o desejo despertado, a bebida que foi tomada, a que está para ser tomada, você é tudo o que já passou, e ainda o que está por vir. Você é o amigo que é, o amigo que tenta ser, você é o amigo que precisa, o amigo que você tem, você é a sensibilidade que grita, a agonia que desperta, o orgulho que despreza. Você é a gargalhada que dá, a gargalhada que causa, a palavra que fala e a que recebe, você é o orgasmo, você é o sexo, a excitação, você é o ser, você é o que desnuda, você é o que precisa e o que causa. Você é o preconceito, você é a discriminação, você é a paz que causa, você é o que prospera, você é toda a raiva da hora, o desprezo de agora, a mágoa de todo o sempre, você é o sorriso dado, o sorriso causado, você também a mudança, ou a impotência de não conseguir mudar, você é o poder, você é o que não pode, é a liberdade que tem, é a liberdade que oferece, é a liberdade que deseja, você é o desejo, o ardor, você é o ódio daquele professor, a raiva do governo, o desapontamento, a vergonha que causa, a vergonha alheia, a vergonha que passou. Você é a vítima, você é o assassino, você é todo aquele problema, você é o ódio que tudo isso dá. Você é a vida que tenta levar, você é tudo o que você queria. Você é o que você tem, o que você queria ter, o que você terá. Você é seus avós desconhecidos, os parentes distantes, os carinhos de vós, os avôs inexistentes, os avôs inegualáveis. Você é aquela praia, aquele dia de sol, aquela piscina. Você é toda a vida, toda a injustiça, todo o justo. Você é a sua vida inteira, ou o que você considera que apenas chamem de vida. Você é aquele inverno frio, aquele dia muito quente, aquele sorvete, aquela torta da tia, aquele bolo de aniversário e todas as velinhas que já soprou. Você é aquelas fotos que tirou, aqueles vídeos gravados, aquele trabalho em grupo, o primeiro carro, o primeiro trabalho, o primeiro dia na nova escola, o primeiro beijo, o primeiro namorado, a primeira vez, a primeira reabilitação, os dias no hospital, o braço quebrado, a perna engessada, a dor de cabeça, o nervosismo, a ansiedade, você é a cor do seu cabelo, os elogios, os desprezos, as críticas. Você é o cigarro que fumou, as drogas que usou, as festas que foi, as músicas que dançou. Você é o que lhe agrada, o que lhe repugna. Você é muito mais além do que qualquer pessoa pode ver, você é todas as razões para ser assim. Você é quem tem todas as razões para não acreditar que o que pensam de você está correto ou não, você é quem tem todas as razões para não pensar que as pessoas são assim. Você é o que você não vê nos outros, você é todas as razões que você extinge. Você vai muito além do que simplismente ''você'', você vai além do que se pode ver, além de uma simples conversa, além de algumas piadas, umas cartas, umas palavras, você vai além daquele vento que arrepia, além daquele temporal. Você é o que ninguém vê.

Um comentário:

Anônimo disse...

O que eu poderia dizer? Um dos melhores textos já escritos aqui.